quinta-feira, 23 de julho de 2009

I've been working awful hard for you.

Ela não sabia como se sentia, como se sentir. As pessoas perguntavam como estava e ela não sabia, não poderia saber já que até um canto a mais ou a menos de um pássaro fazia uma grande diferença agora. Tinha atingido o limite, a linha que separa o quase do é, a linha que separa a vida da morte... Drama demais. Sentou no sofá e olhou a janela, janela que mostrava a cidade, a cidade que abria os olhos para novo dia aos poucos, meio atordoada, meio cansada de ter que suportar tudo novamente. Pensou sobre a cor dos olhos, o cheiro e o gosto dele, e como tudo isso transparecia nas fotografias que eles tiraram juntos, em como tudo isso transparecia nas fotografias que ela tirou dele. Sorriso doce e sincero. O café esfriou, assim como outras coisas. Precisava de companhia. Escolha aleatória, acabou tirando o vinil da Piaf. Perfeito para o momento. O café frio descia suavemente pela garganta, fazendo uma dança com o coração que estava para sair, o acalmando, dizendo que aquela não era a solução. Mais dúvidas para o pobrezinho. A quoi ça sert l'amour? Percebeu que o gato dele não estava por ali, com seus olhos amarelos e hiponotizantes ronronando para ela, pedindo por um pouco de atenção. Essa era a diferença entre os dois. O gato clamava por uma atenção que ele nunca seria capaz de dar, e ela, ela se contentava com muito pouco, sempre foi assim, meio perdedora, meio cansada, olheiras, devaneios, procura por uma máquina de escrever vermelha e ele. Essa era ela, e a falta de atenção dele não a incomodava nem um pouco. Ele teria que ir, eventualmente, ele era assim, evitava maiores sentimentos. Besteira. Se alguém fosse machucar alguém, não seria ela a ele, e ele sabia disso, só não acreditava. Quando parou pra pensar, estava sentada no chão com seu caderno e suas ideias. Tudo anotado em uma letra ilégivel para outros e apenas feia para ela. Ali estava o gato, apreciando a cidade como ela fazia minutos atrás. Queria dar um volta. Sem companhia. Vestiu o casaco verde que ele tanto elogiava e saiu pela porta. Topou com ele na escada enquanto vomitava seu coração. Papéis invertidos. Ele chegando e ela saindo. Os olhos dele suplicavam por carinho e abraço, mas sua boca continuava fechada. Olhos nos olhos, quero ver o que você diz. Não informou sobre o café ou sobre o gato. Não informou sobre a beleza da nova cidade nem sobre o sanduiche de atum e o suco de maracujá na geladeira. Olhou-o como alguém que olha o filho pela primeira vez e desceu as escadas. Ele escolheu não seguir.

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