domingo, 4 de agosto de 2013

Informe

Esse blog é meu xodó. Sempre foi. Não sei se alguém lia, ou ainda lê, ou se esse informe vai fazer alguma diferença.
Mas tudo bem, e tudo vai. A interface do Blogspot é confusa e não muito prática, então resolvi me relocar.
Só queria dizer que não o utilizarei mais. O meu carrossel agora será outro.
Esse aqui
http://red-hurricane.tumblr.com/

Obrigada por todos os textos.
Essa URL sempre será lembrada e amada.



domingo, 10 de fevereiro de 2013

I heard someone saying love is bitter

Metade do tempo não consigo respirar. O ar me vem como pedras, pedras que não encontram o caminho para meus pulmões. O ar me vem como pedras, que me torturam com a certeza insuportável de que ainda estou aqui, e de tudo continua a fugir do meu controle.
Melhor se viesse como facas, como lâminas afiadas.
Melhor se me cortasse por dentro.


Preciso de alguém que não vá fugir, porque eu não consigo fugir de mim.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Modernismo

Era bonita, e chorava. Não sei quais são as regras com relação a isso. Acredito que chorar quando se possui um certo nível de beleza é mal visto. Ainda assim, era bonita e chorava. Tapava o rosto, enquanto o rapaz igualmente bonito gesticulava e falava coisas para ela, a menina bonita que chorava.
Vestia uma saia azul, de cintura alta. Azul céu. Não era rodada exatamente. Possuía um tecido leve, que balançava com o vento. E vestia uma blusa preta. Mas eu gosto de pensar que estava de preto, como que em luto. Com um pano rendado cobrindo seu rosto bonito, vermelho e molhado. Assim seu choro se tornaria mais aceitável.
O sinal abriu. Uma enxurrada de pessoas veio. Não sabia se do Setor de Autarquias Sul, ou do Setor Bancário Sul. O triste era saber que não tinham vindo da Biblioteca Nacional. Que não tinham pisado os pés cansados no Museu da República.
Passavam enquanto observavam a menina bonita chorar. O rapaz permanecia gesticulando, tentando acalmá-la. Tocou-lhe os ombros, a tirou da multidão.
A menina bonita limpou as lágrimas dos olhos vermelhos, no rosto vermelho. Chorou no meio da rodoviária de Brasília. Se fosse em São Paulo, ninguém repararia.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Não é límpido ou transparente

Não era uma viagem muito longa. Uma semana. Duas, no máximo. Mas tive a constante impressão de estar levando pouca coisa. Pouca roupa, poucos livros.
Eu não estava acostumada com aeroportos. Era acostumada com carros, viagens de três dias. Canaviais e aquele cheiro terrível.
Não me sentia confortável em um avião. Estão no ar, não era pra mim. Não sou pássaro, não sou nuvem.
Esperava sentada. Um rapaz olhava pra mim. Dezessete, talvez. Tinha em mãos uma revista. História em quadrinhos, acho. Com olhos animados e pernas inquietas, ouvia algo que provavelmente não me apeteceria. Tinha um headphone. Enorme, tão grande quanto sua cabeça morena. A música deveria estar alta, pois a senhora ao seu lado parecia incomodada.
Algumas crianças corriam pela área de espera. Provavelmente por causa da época do ano. Início de janeiro, viagens em família. Pais preocupados, mães ansiosas, crianças elétricas.
Ouvi as palavras. Me chamavam para embarcar. Não foi algo direto e pessoal, é claro. Foi apenas um aviso geral. Eu não teria o prazer de ficar na janela. Corredor.
A imagem de todos os meus possíveis companheiros de voo me aterrorizava.
Não fume, não pode fumar, é proibido fumar. Tantas placas e sinais me deixaram com vontade. Apalpei o maço no bolso do casaco.
Fui a primeira da fileira a me acomodar. Alguns minutos depois, tive que me levantar para que as outras duas pessoas ocupassem seus lugares.
Seus rostos eram turvos.
Fechei os olhos.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Amora

Pedro gostava de ler comendo, o que muito me incomodava. Principalmente quando ele resolvia fazê-lo na cama. Eu ficava preocupada, agoniada. Ele era desastrado, e eu sempre achava que ele iria estragar, sujar, manchar, molhar, rasgar meus livros.
Não poderia estar mais errada. Ele nunca o fez.
Pedro me decepcionou de várias formas, mas sempre teve respeito pelos meus livros e lençóis.
Constantemente errava o número do apartamento e me ligava envergonhado, muitas vezes esquecia que horas eu saía do trabalho, ou que eu odiava amarelo.
Mas Pedro nunca errou a quantidade de açúcar no café, ou a música que tocou.
Um certo dia, preencheu o espaço vazio da minha estante e disse que, se pudesse, teria cheiro de livro velho.
Só por mim.

(escrito em 15 de novembro de 2011)

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Silver turns to Gray

Morava em uma daquelas casas "estilo americana". Não sabia, entretanto, explicar como era. E também não sei. Mas sabiamos que era algo bom, afinal, tinha acesso ao telhado pela janela de seu quarto. Algo típico, imaginava(mos).
Era uma noite quente, úmida, com muitas estrelas no céu, e poucos aviões. Com o aparelho de som desligado, era possível ouvir a televisão que ficava no quarto dos pais. Noticiário. Algo sobre um incêndio em uma fábrica no sudeste do país. Longe demais, fora do alcance, fora de sua realidade, era difícil se importar.
Imaginou o gato que não tinha na beira da janela. Pegou o binóculo e resolveu dar uma olhada lá fora, só pra não perder o hábito. Passou com dificuldade pela janela e, com cuidado, sentou no telhado,com o binóculo pendurado no pescoço magro...
Não havia muito o que se ver. Não gostava de estrelas. Era uma pessoa(!) diurna. Pássaros, nuvens, essas coisas. Um pouco além estava o lago. E depois, tanta coisa que talvez nunca visse. De repente,"Oh, my Lolita, I have only words to play with!"disse em voz alta, com um sotaque britânico ridículo. Se sentia tão Lolita, com sua beleza estonteante, e seu ar doce, e seus cinematográficos óculos em forma de coração. Isso não significava nada. Estar naquele telhado, muito menos. Não se sentia minúscula em um Universo que se dizia infinito, um Universo que ela nunca viu! Nunca tocou! Não sabia se era real, se era só sonho, se era só arte. Se sentia grande, espaçosa. Suas unhas roídas e seus vestidos floridos ocupavam todo o espaço que deveria ser de árvores, dos ventos, dos animais. Que foram conquistados, que foram corrompidos, que agora deitavam e rolavam por um pedaço de biscoito de chocolate...
Não, não tinha vozes em sua cabeça lhe dizendo o que fazer. Ou a dor de um amor perdido. Ou uma consciência pesada, arrependida, chorosa. Nada disso. Tinha uma lista de obrigações, de desejos, de países bonitos e suas capitais interessantíssimas.
Naquele telhado, nada aconteceu. Grandes revelações, ideias brilhantes. Não nascia um filme, ou um poema. Saiu de lá tão cheia de nada quanto entrou.
Mas sempre com a certeza de que monumentos são construídos apenas em espaços vazios.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Twilight

Os dias eram iguais e após alguns meses, a junção de tantos dias iguais, formaram algo diferente. A junção de tantos dias iguais causava mudanças.

Queria café. Já eram 19h, mas estava claro demais, quente demais. Não parecia noite porque não era. Era um meio termo esquisito, e sentiu que tomar café naquele momento pareceria estranho. Ele dizia coisas engraçadas, das quais ela não se lembra mais, só lembra que a faziam rir. Talvez não o que era dito em si, mas a situação. A vida como estava. Era inesperado.
Levantou da cama e se vestiu. Ela ficou parada olhando. Ofereceu café. Ela achou divertido. Explicou a situação da noite-não-tão-noite-pra-café e ele fez cara de quem achou bobagem.
Sentou ao lado dela, abaixou a cabeça, lhe afagou os cabelos. Disse que ia fazer café, e que já voltava. Que ela poderia fumar, se quisesse. Ou abrir a janela.
Se enrolou em um cobertor e fez o que lhe foi sugerido. As árvores impediam uma boa visualização do que acontecia do lado de fora, e os pássaros já não cantavam. O vento pós-chuva trouxe o cheiro dele que, obviamente, estava impregnado em cada parte do quarto - e dela. Achou bom. Sorriu.
Fumou um, dois cigarros. Mexeu nos livros, leu dedicatórias de pessoas que não conhecia, mas que tinham letras bonitas. Cantarolou, observou crianças que passavam lá embaixo, se apressando para o jantar. Voltou, entregou-lhe uma xícara verde de café e o Sol já não estava ali.
Propôs um brinde... com café. Dessa vez, ela que sorriu com cara de quem acha bobagem.
Tentaram falar, não conseguiram.
Poucas palavras, muitos olhares. A maioria das vezes não conseguiam entender.