domingo, 18 de abril de 2010

Transcorrer.

É a coisa do talento. Eu nasci para aplaudir, ele para receber. Ou melhor, merecer tais aplausos. Ele reinava soberano no seu (que, ao mesmo tempo, era tão meu) mundo enquanto eu, observando a fumaça sair de sua boca, fazia reverências com a alma.
Era difícil não se sentir ameaçada com os gritos, comentários que eu ouvia, mesmo não querendo, e admiração de todas as garotas, garotos, pessoas. Era mais fácil de perder, afinal, mas gente via o que eu via. Sim, eles viam o mesmo que eu, só que de forma diferente. Eu, mais do que o músico, via o amor, da vida ou não, era isso que eu via. O amor.
Vezenquando ele fazia um versinho em minha homenagem, mas era nosso segredo. Ele nunca me contava, eu só descobria na hora do show, quando ele me olhava com cara de quem queria dizer "euteamotantomeuamor". Eu ficava com vergonha, ele me deixava com vergonha. Mas não deixa mais.
A fumaça do cigarro se foi, assim como os versos.
E o levaram junto.