sábado, 25 de julho de 2009

I've been working awful hard for you. #2

Entrou no apartamento que parecia pequeno demais sem ela pra equilibrar o ego gigantesco dele. Tentou não pensar no quão triste e poética foi aquela cena na escada, pois pela primeira vez, percebeu que ele era a culpado. Abriu a geladeira com o gato incansável pedindo carinho, um carinho que ele nunca poderia realmente dar. Viu o suco, o sanduiche...Saudável demais. Queria algo que fizesse mal, essas coisas costumam limpar a alma dele. Tateou o bolso e pegou a carteira de cigarro. Abriu a garrafa de vinho que estava envelhecendo dentro do armário e foi para a sala. Sentou no sofá que cheirava a sexo, praticado tantas outras vezes ali. Viu que o álbum de fotos estava em cima da mesa, logo deduziu que ela estava olhando-o. Dias de ouro, pensou. O vinho descia tão doce pela garganta quanto a fumaça do cigarro. Colocou o copo em cima da mesa de madeira. Lembrou da ameaça que ela fez se ele manchasse a mesa. Sorriu. O gato agora se apoderara de seu colo. Estava quieto, quase dormindo. Ele o acariciou. Quando as pessoas desistem de pedir a ele algo, ele concede a elas, sempre foi assim. Nunca fez muita questão de sair de casa, mas ficava tocando violão o tempo inteiro. Ela sabia que seria difícil, não pode reclamar. De qualquer forma, conseguiu dele o que nenhuma tinha conseguido antes. Ele precisava dos passeios noturnos, de ficar preso em seu lindo e imenso mundo por algumas horas, do contrário, as malas estavam ali. Mas ele sentia agora a dor que sempre causava a ela quando partia sem lenço nem documento, quando partia durante dois dias sem telefonemas ou avisos, só...sumia. Ela às vezes o acordava no meio da noite clamando por um beijo, por um simples toque do seu doce lábio. Ele dava. Um, dois, três, sete. Virava e dormia. Ela continuava lá, olhando para o teto com os olhos brilhantes e os sentidos totalmente confusos, mesmo depois de dois anos de beijos constantes. Era disso que ele gostava, gostava da forma como a controlava com um simples beijo. A garrafa já estava no fim e o gato estava brincando com uma bola de tênis. Gato bobo. A fumaça do último cigarro desenhava pequenas bolas no ar, apesar dele ver o rosto dela sempre. Calçou o all star verde que já estava rasgando e colocou o blazer que ela tanto amava. Abriu a porta e lá estava ela, sentada nas escadas apenas... esperando? Sentou ao seu lado e sentiu seu cheiro. Um mix de absinto com desespero e dor. Acariciou seus cabelos vermelhos e lhe deu um beijo na testa. Pegou-a pela mão e a conduziu a saída do prédio, a fez cruzar a ponte que a separava de todos os seus sonhos. A partir daquele momento, pequena estrela pequena não era mais.

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