quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Modernismo

Era bonita, e chorava. Não sei quais são as regras com relação a isso. Acredito que chorar quando se possui um certo nível de beleza é mal visto. Ainda assim, era bonita e chorava. Tapava o rosto, enquanto o rapaz igualmente bonito gesticulava e falava coisas para ela, a menina bonita que chorava.
Vestia uma saia azul, de cintura alta. Azul céu. Não era rodada exatamente. Possuía um tecido leve, que balançava com o vento. E vestia uma blusa preta. Mas eu gosto de pensar que estava de preto, como que em luto. Com um pano rendado cobrindo seu rosto bonito, vermelho e molhado. Assim seu choro se tornaria mais aceitável.
O sinal abriu. Uma enxurrada de pessoas veio. Não sabia se do Setor de Autarquias Sul, ou do Setor Bancário Sul. O triste era saber que não tinham vindo da Biblioteca Nacional. Que não tinham pisado os pés cansados no Museu da República.
Passavam enquanto observavam a menina bonita chorar. O rapaz permanecia gesticulando, tentando acalmá-la. Tocou-lhe os ombros, a tirou da multidão.
A menina bonita limpou as lágrimas dos olhos vermelhos, no rosto vermelho. Chorou no meio da rodoviária de Brasília. Se fosse em São Paulo, ninguém repararia.

Um comentário:

  1. já chorei na linha verde. enlouquecida. sem conseguir parar. pela paulista também. até a pm parou pra perguntar se tudo estava bem. velhinhos no metrô pegavam na minha mão e diziam apenas que ia passar. um outro velhinho veio falar comigo, tentar entender o que aconteceu, e ele que acabou falando sobre a vida dele, sobre sua família e sobre suas mágoas. Em São Paulo as pessoas reparam e acolhem.

    e eu só chorava porque tinha passado na usp, ia me mudar logo. chorava porque o cine marcou comigo na livraria cultura e não apareceu. nem justificou porque não foi, nem avisou que não iria. chorava porque minha mãe não entendia minha dor e me tratava com violência e dizia, como sempre, que era frescura.

    agora, em sp, me sinto tão feliz por estar longe da estupidez dos meus pais. e um pouco culpada por me sentir eu, por me sentir inteira, aqui, no meu apt no quinto andar, e não lá, na casa deles, onde eu só sinto angústia, opressão... e solidão.

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