sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Silver turns to Gray

Morava em uma daquelas casas "estilo americana". Não sabia, entretanto, explicar como era. E também não sei. Mas sabiamos que era algo bom, afinal, tinha acesso ao telhado pela janela de seu quarto. Algo típico, imaginava(mos).
Era uma noite quente, úmida, com muitas estrelas no céu, e poucos aviões. Com o aparelho de som desligado, era possível ouvir a televisão que ficava no quarto dos pais. Noticiário. Algo sobre um incêndio em uma fábrica no sudeste do país. Longe demais, fora do alcance, fora de sua realidade, era difícil se importar.
Imaginou o gato que não tinha na beira da janela. Pegou o binóculo e resolveu dar uma olhada lá fora, só pra não perder o hábito. Passou com dificuldade pela janela e, com cuidado, sentou no telhado,com o binóculo pendurado no pescoço magro...
Não havia muito o que se ver. Não gostava de estrelas. Era uma pessoa(!) diurna. Pássaros, nuvens, essas coisas. Um pouco além estava o lago. E depois, tanta coisa que talvez nunca visse. De repente,"Oh, my Lolita, I have only words to play with!"disse em voz alta, com um sotaque britânico ridículo. Se sentia tão Lolita, com sua beleza estonteante, e seu ar doce, e seus cinematográficos óculos em forma de coração. Isso não significava nada. Estar naquele telhado, muito menos. Não se sentia minúscula em um Universo que se dizia infinito, um Universo que ela nunca viu! Nunca tocou! Não sabia se era real, se era só sonho, se era só arte. Se sentia grande, espaçosa. Suas unhas roídas e seus vestidos floridos ocupavam todo o espaço que deveria ser de árvores, dos ventos, dos animais. Que foram conquistados, que foram corrompidos, que agora deitavam e rolavam por um pedaço de biscoito de chocolate...
Não, não tinha vozes em sua cabeça lhe dizendo o que fazer. Ou a dor de um amor perdido. Ou uma consciência pesada, arrependida, chorosa. Nada disso. Tinha uma lista de obrigações, de desejos, de países bonitos e suas capitais interessantíssimas.
Naquele telhado, nada aconteceu. Grandes revelações, ideias brilhantes. Não nascia um filme, ou um poema. Saiu de lá tão cheia de nada quanto entrou.
Mas sempre com a certeza de que monumentos são construídos apenas em espaços vazios.

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