terça-feira, 24 de abril de 2012

Amora

Pedro gostava de ler comendo, o que muito me incomodava. Principalmente quando ele resolvia fazê-lo na cama. Eu ficava preocupada, agoniada. Ele era desastrado, e eu sempre achava que ele iria estragar, sujar, manchar, molhar, rasgar meus livros.
Não poderia estar mais errada. Ele nunca o fez.
Pedro me decepcionou de várias formas, mas sempre teve respeito pelos meus livros e lençóis.
Constantemente errava o número do apartamento e me ligava envergonhado, muitas vezes esquecia que horas eu saía do trabalho, ou que eu odiava amarelo.
Mas Pedro nunca errou a quantidade de açúcar no café, ou a música que tocou.
Um certo dia, preencheu o espaço vazio da minha estante e disse que, se pudesse, teria cheiro de livro velho.
Só por mim.

(escrito em 15 de novembro de 2011)