domingo, 1 de novembro de 2009

Tecnicolor

Ela vivia com aquela filmadora apontada para os cabelos cacheados dele. Ele, sempre com muita vergonha, ficava vermelho rapidamente e cobria o rosto com as mãos, ou uma almofada, ou, por vezes, com o gato que passeava inocentemente pela casa. Ele viva com o violão na mão escrevendo músicas e tocando, tocando, tocando, enquanto ela reclamava e o mandava morar com o violão. Ele dava uma risada gostosa, deitava o violão com todo o cuidado na mesa e corria até ela. Abraçava-a, beijava-a e cantava para ela, fazendo ela rir e sorrir e adorá-lo cada vez mais. Vez em quando ela estava dormindo e ele pegava o violão e começava a tocar Baby. Ela acordava meio desnorteada e jogava um travesseiro nele. Ela ria, ele sorria e de repente paravam e ficavam olhando um para o outro. Só olhando. Do me a favour, look at me closer. Vez em quando ele saia para fazer os pequenos shows rotineiros enquanto ela ficava no escuro com os cigarros, a fumaça, o gato e os vinis, escrevendo um novo roteiro, olhando pela janela, até que ele chegava tarde da noite e batia na porta, fazendo um som diferente, fazendo o som que o coração dele fazia ao vê-la.
Só ao vê-la.

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