quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Sweet Cloud

Os seus cachos estavam bagunçados, anormalmente entrelaçados entre si, os meus dedos não conseguiam sair de lá. Você ria e dizia que pentear o cabelo era perda de tempo, enquanto eu beijava suas bochechas pálidas, sua boca suplicante e seus olhos café. Você levantava e saia do quarto, enquanto eu ficava lá, vendo você até onde você não estava. Eu fechava os olhos, virava, dormia novamente. Você puxava as cobertas e dizia que eu estava atrasada, que você mesmo estava atrasado e me pedia para fazer panquecas. Eu fazia uma careta, levantava e dizia "estou atrasada, vá comer na padaria". Você sorria e me mostrava o relógio. 6h. Eu te dava alguns tapas e você me agarrava pela cintura e me dava um beijo matinal. O beijo matinal. Me atirava de volta na cama e pegava alguma camiseta das milhares amontoadas no guarda roupa e saia do quarto batendo pelas paredes, sempre vestido com seu jeans preferido, com meu jeans preferido. Eu ficava parada te vendo até onde você não estava. Levantava calmamente, te pegava desprevinido, colocava minhas mãos quentes sobre seus olhos café e perguntava quem era. "Lady Gaga", você dizia, com aquela voz doce, que estava constantemente falando sobre o quão boba e louca-por-você-até-fim-do-mundo eu era. Eu só sorria. Não ousava negar. Não poderia negar. Não sabia como negar. Colocava o meu vinil do Rolling Stone e cantava, ou melhor, gritava, enquanto você bebia café e lia o jornal. Eu rodava com os olhos fechados, esbarrando nos móveis e caindo, enquanto você se engasgava com o café por rir de mim. Ia até lá, se deitava ao meu lado no chão e me dava um beijo. O beijo. Levantava e saia andando em direção a porta com seu all star vermelho sangue. Os seus passos faziam um som torturante no piso de madeira. Sons de adeus. Saia sem olhar pra mim, batendo a porta, enquanto eu ficava lá, boboca e patética, te vendo onde você não estava. De repente você voltava com uma cara preocupada, abria a porta e exclamava um lindo e maravilhoso "eu te amo" e saia batendo a porta.

Enquanto eu ficava lá, te vendo até onde você não estava.

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